22.8.09

Solidão compartilhada

Para escrever bem é necessário deixar os escrúpulos de lado; fingir crer que ninguém nunca lerá o que se escreveu! Para se escrever bem é fundamental acreditar que você nunca será julgado por aquilo que disse, pelo que, direta ou indiretamente você insinuou! Para se escrever bem precisamos esquecer quem realmente somos e por um momento, um breve instante, acreditar ser o que na verdade não o somos; aparentar conhecer o que não conhecemos; aconselhar coisas que não praticamos; sugerir ideais que não construimos, nunca implantamos! Para se escrever bem
tem que se conhecer o choro, a dor, o suor, o desapontamento, a frustração, a mágoa, a traição - A deslealdade - Para se escrever bem tem que se viver mal! Curioso, não? Escrever bem não é ser, não é possuir, não é obter, não é reter nem absorver mas... Dividir, conceder, compartilhar... desaguar, como rio que corre pro mar, como água doce, cujo destino é saciar! Escrever é, isto sim, apontar destino que se quer alcançar! É ser agulha que orienta a bússola; é ser farol que expulsa a escuridão! Escrever bem é ser... estar.... ficar, em fim... qualquer coisa... desde que seja singular; Qualquer coisa que não divida lugar, que não se deixe acompanhar! Qualquer coisa que se queira, pode ser tudo, tudo mesmo, menos algo que lembre um outro olhar. Para se escrever bem há de si ser discípulo da solidão; Há de se viver na contra-mão! Há de se quebrar paradigmas, de discordar da multidão, de despertar aptidão! Para se escrever bem é indispensável paixão, emoção, comoção... mas também, irreverência, rebeldia, anarquia e
até uma pitada de indisciplina! Afinal, quando se escreve, escreve-se para o ser humano
que, por mais que este defenda a ordem, na verdade adora a irreverência... O inesperado - O reprovável! Para se escrever bem, acreditem, tem de se conhecer o que há de mau, porque... o que é bom é lucro. E, na vida, sempre preferimos achar que o lucro é obrigação da própria existência, e portanto, não há favor nenhum nas bênçãos recebidas. Há sim, pensamos nós - dívida... se elas se atrasam ou não chegam!
Autor: Cláudio E. Selga
Foto: Domínio público

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