4.7.10

Saudades do Didi.



No Brasil após uma frustração em uma Copa do Mundo sempre vem as perguntas: O que houve? O quê aconteceu? O quê faltou, afinal? Talvez a pergunta correta não seja o que faltou, mas sim, o que sobrou neste grupo que fez que não trouxessemos a Copa? Talvez tenha sobrado a reclusão que, como em qualquer cárcere, leva todo e qualquer ser humano à angustia dos solitários tidos e mantidos como que se portadores de infecções contagiosas, às quais teriam o poder de desintegrar o sonho de um só homem, um só senhor amedrontado pelo fracasso. Talvez tenha sobrado a arrogância dos “surdos”- não daqueles que o são por deficiência natural, mas sim dos que, tendo o privilégio da audição, preferem à reclusão da própria convicção e se ilham num festival de prepotência e egocentrismo! Talvez tenha sobrado uma confiança cega em projeções no mínimo questionáveis, como a recuperação plena e a tempo do Kaká, que tenha sido a verdadeira culpada da não convocação do Ganso, por exemplo, como opção tática em uma eventual necessidade de mudança de jogo, como foi o caso na partida contra a Holanda. Mas quem sabe o que sobrou mesmo tenha sido o esquecimento de que  somos os melhores nesta modalidade e não por acaso somos os únicos penta campeões mundiais de futebol, e por isso mesmo, não tinha-mos de entrar em pânico, como foi o caso, por causa de um simples empate absolutamente fortuito, alcançado por um time (com todo o respeito) limitadíssimo, como era o caso do selecionado holandês! Sobrou-nos nervosismo, sobrou-nos insegurança, sobrou-nos medo! Medo de uma desclassificação que no momento do empate ainda estava a anos-luz de acontecer! Sobraram muitas coisas neste episódio, sim – é verdade! Mas, ao olhar para a história gloriosa da nossa amada seleção brasileira, sou obrigado a reconhecer que faltaram algumas coisas também! Faltou a alegria típica e mais do que natural do nosso futebol, cuja natureza substantiva é a razão do verdadeiro bolero. Faltou o grito: É MINHA! Do Júlio Cezar, naquela despretensiosa bola alçada na área brasileira e que acarretou no empate quase que inacreditável para os próprios holandeses! E foi ali, naquele simples empate é que, ao meu ver, faltou o mais precioso em um time de futebol: Faltou alguém como o grande Didí, que em 1958, na Copa da Suécia, ao ver o seu time tomar um gol aos quatro minutos do primeiro tempo, na casa do adversário, buscou a bola no fundo do gol brasileiro e caminhou lentamente até o centro do campo, conversando com os colegas e dizendo: “Calma: Somos melhores e podemos vencê-los; Basta-nos acreditar e jogar o que sabemos!” É realmente muito triste ter de reconhecer que em 2010, na Copa da África do Sul, tenha-nos sobrado um tal Filipe Melo que, em sua grosseria e despreparo psicológico, pisou na cocha de um adversário, enquanto nos tenha faltado um certo Didi – campeão mundial em uma Copa da qual o Mundo jamais poderá se esquecer - e que após um momento difícil colocou a bola debaixo do braço e lembrou a todo o elenco do que ele era capaz de fazer.

  A verdade é que em 2010 faltou-nos um único Didi, enquanto nos sobraram alguns Filipes melo!

Texto: Cláudio Selga
Foto: Domínio público.

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